segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Espaço: Viagens

Em 2009 foi realmente o ano em que me despartou o real interesse da viagem, não a de turista, mas uma viagem de conhecimento e uma viagem como modo de vida. Falta-me no entanto a coragem (e a certeza de querer realmente partir), que como diz Gonçalo Cadilhe o maior problema é adiar-se.

Apesar desta vontade sem coragem, começei a ler uma série de livros e a ver alguns filmes sobre viajantes, e eis que me apercebi que existem diferentes tipos de viajantes (claro que qualquer um já pode ter percebido isto, mas eu só cheguei lá agora!). Aqui ficam os meus 3 tipos de viajantes:

Temos o viajante turista, aquele que viaja para ver o que "há" para ver nas cidades e que toda a gente vai ver. Segue as massas. Mesmo que esteja sozinho a fotografar o coliseu de Roma é como se estivesse envolvido num grupo de turistas, pois nada daquilo é original. É de facto a maneira mais usual de se fazer turismo, se calhar a mais fácil... porém no fim muita gente chega a casa e perguntam-lhe: "Como é a Itália? Vive-se bem lá?" E a única resposta que um turista consegue dar é através de fotografias que tirou a monumentos já mundialmente fotografados. Mas quando lhe voltam a perguntar como é a vida em Itália uma pessoa fica a pensar de como será realmente a vida em Itália. Eu próprio sou um destes turistas, preocupo-me inconscientemente de ir aos sítios ver o que eles têm para mostrar e quando dou por mim, fiquei sem conhecer o povo, a cultura, a maneira de estar na vida de milhões de pessoas diferentes de mim.

O segundo tipo de viajante é o "fugitivo". Não, não é o que foge à justiça, mas sim o que nega o seu mundo, as suas raízes, a sua existência até ao momento em que põe um pé na estrada. Depois.... depois é uma nova pessoa, libertou-se do seu passado, vivendo o presente e podendo escolher o futuro! Christopher McCandless é talvez um dos exemplos máximos deste tipo de viajante. Cheio de ser regido pela sociedade, cheio que lhe definam o futuro, pôs o pé na estrada... chegou até ao Alasca e lá sobreviveu uns meses. Viveu esses meses como os quis, como ele próprio os procurou... Livre de tudo. Livre de preocupações mundanas. Teve um fim um pouco trágico, mas muitos outros que procuraram este tipo de liberdade vaguearam pelo mundo ao longo de anos, conheceram culturas diferentes, deixaram-se adoptar por outras sociedades e criam novas raízes.

Por fim apercebi-me de um terceiro tipo de viajante, aqueles que descobrem o mundo, muitas vezes sem destino fixo, outras vezes sem uma ideia... apenas vão aonde o destino os levar. Estes viajam sobretudo sozinhos e criam amigos com extrema facilidade. Depois usam muitas vezes esses amigos para conhecer novas pessoas, noutras cidades, continuando a sua vida em busca de novas experiências. Na minha opinião estes são os verdadeiros viajantes e que podem dizer que realmente conhecem o mundo. Quem já teve os pés em cada um dos continentes, procurando sempre compreender as diferentes sociedades, é que se pode considerar um ser que viveu no mundo... todos os outros são pessoas que viveram em família. Neste grupo podemos incluir todos os investigadores do século XIX que não se deixaram ficar pelos relatos que vinham das colónias e iam eles próprios procurar, ver com os seus olhos, descobrir novos recantos neste globo gigante. No século XX e XXI também os existem, mas já não há aquele fascínio de conseguir através de amigos um barco que vai para o Pacífico, passeando por alguns dos sítios mais fantásticos, como fez Darwin. O seu relato a bordo do Beagle é algo que nos deixa a imaginar como seria fazer aquela viagem, num barco e parando todas as semanas num local diferente para se absorver a natureza do local...

Actualmente estas viagens deixaram as elites e passaram às massas. Qualquer pessoa consegue facilmente dar uma volta ao mundo, só falta coragem, falta o primeiro passo como diz Gonçalo Cadilhe... depois é seguir sempre para Oeste (ou Este, como preferirem). Com a coragem consegue-se deixar o País e a família, consegue-se ganhar o dinheiro para a próxima viagem, para a próxima etapa... Viver como estes viajantes (Darwin, Chatwin ou Cadilhe, cada um no seu tempo) é uma atitude corajosa que consiste em transformar a nossa vida numa viagem pelo globo... sem parar!

3 comentários:

Sophie disse...

Acabei de chegar de uma aula de marketing onde se definiu turismo e turistas por isso foi muito engraçado ler isto :P tens tanto mérito como os estudiosos que definiram "turista", definiste como o conheces, com a tua experiência vivida, como o que leste!

Creio que ir conhecendo aos poucos um bocadinho dali e outro de acolá é excelente. Parece o contrário, mas olha que não é assim tanta gente que o faz. Aliás é o que a vida permite ou é a forma como estamos organizados: trabalho trabalho para ter direito a férias. Eu adoro isso!!! E responder a "o que achaste do povo?" também é válido para uma pessoa que contactou com o mesmo durante uma semana. Em quase tudo levamo-nos pelas primeiras impressões.

Quero muito conhecer sítios diferentes, mudar de continentes, e falar com pessoas que não pensam como eu. Mas isso não é num pacote quinzenal, ou até mesmo mandar-me um ano para o desconhecido. É a história de uma vida.

Hmm... também tenho essa vontade de largar tudo sim. Acho que é mais que coragem, se for a pensar em coragem nunca mais me mando sozinha para um país diferente durante 4 meses, não é tão fácil assim.

Já estou a divagar.

Continua a sonhar seres tu na viagem, dreams do come true ;)

Beijinhos

Não partas sem mim :)

Asur disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Asur disse...

Lê isto:

http://www.amazon.co.uk/Art-Pilgrimage-Seekers-Making-Travel/dp/157324080X/ref=sr_1_7?ie=UTF8&s=books&qid=1265735125&sr=8-7

;)